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Saúde mental: muito além do Janeiro Branco

As tecnologias, embora necessárias, nos deixam cada vez mais ansiosos e dependentes, um veneno para a saúde mental, segundo especialistas.

Quantas vezes você ouviu a frase: “estamos na correria”? Na conversa com amigos, familiares e colegas de trabalho essa expressão faz parte do dia-a-dia do ser-humano numa tentativa de justificar uma agenda de compromissos que parecem não acabar nunca.

Pode não perceber, mas esta busca constante pelo ‘dar conta de tudo’ e até mesmo ‘ter uma vida ocupada de mais’ podem ser um fator para o adoecimento psíquico da população.

Só em 2021, de acordo com os números do Mapa Assistencial da Saúde Suplementar, foram registradas 221.486 internações psiquiátricas, o que corresponde a 2,8% de todos os internamentos do ano. Já em relação às sessões individuais para tratar da doença foram mais de 4,7 milhões em todo o Brasil.

Busca por ajuda em SC


Esta realidade tem refletido em Joinville. A Psicanalista Karla Françoise tem percebido uma procura maior de pessoas que querem conhecer-se mais e entender-se melhor. E não são só os adultos que estão ficando doente.

“Tenho visto adolescente e jovens buscando essa terapia. E muitos com ansiedade e depressivo. Então esse início de ano, tenho visto uma procura muito grande”, explica.

Todo janeiro é a mesma coisa. Fazemos planos para o ano que está começando, queremos algo novo, uma vida diferente, mas é necessário pegar essa largada de ano para uma mudança estrutural ao longo de todo os 12 meses, defende Karla.

Lançada em 2014, a campanha Janeiro Branco quer estimular todos a debater a importância da saúde mental nas relações humanas.

De acordo com Karla, é o momento de refletir sobre nossa vida, entender que uma humanidade mais saudável é mais feliz e, mais que isso, precisamos quebrar tabus que estão enraizados na sociedade.

“As pessoas ainda têm preconceito quando se fala em psiquiatra, de psicólogo, de terapia. Então esse processo de informação do janeiro branco precisa ser levado o ano inteiro, caso contrário não veremos resultados. ”

O papel da sociedade


Tão importante como cuidar de si mesmo, é necessário mobilizar toda a sociedade para combater este mal que afeta 10% da população mundial, cerca de 720 milhões de pessoas, segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Na avaliação da especialista, a sociedade tem papel fundamental nesse processo que é permanente para ajudar pessoas com a saúde mental debilitada.

A primeira ação é entender a fundo qual a importância da saúde mental para o próximo. Cerca de 80% da população não sabem que uma dieta balanceada contribui para a saúde mental, por exemplo. Falta informação na escola, na família, no seio da sociedade.

O segundo passo é perceber os sinais de quem precisa de auxílio. E o terceiro é ajudar, sem julgamentos.

“Então temos três passos: conhecer, identificar e ajudar. Quando a gente conhece, a gente consegue identificar e temos condições de ajudar, como fazer uma caminhada, por exemplo.

Estudos comprovam que a caminhada diária tira a pessoa da depressão severa e qualquer um pode fazer isso convidando o irmão, o amigo, um familiar. São processos pequenos e altamente benéficos que a sociedade precisa saber.

Como manter a saúde mental em dia


Existem ações simples que nos ajudam a manter a saúde mental em dia, segundo Karla. São elas: atividade física, dieta balanceada, qualidade de sono, bons relacionamentos, gratidão, solidariedade, doar por algum motivo e fazer parte de algo maior do que apenas existir.

“São regras básicas para você começar a ter uma saúde mental em dia. São Ups para o cérebro.

Descansar como se deve faz parte da vida. Atividades relaxantes. Gratidão por tudo. Ser solidário. Um cérebro grato também libera serotonina entre outros benefícios”.

A tecnologia x saúde mental


Estamos hiperconectados o dia inteiro. A tecnologia veio para fomentar o aprendizado, a medicina e para inúmeras atividades é saudável, mas por outro lado não estamos sabendo usar, diz a especialista

“Quando ficamos muito tempo a frente de uma tela é prejudicial pois ativamos no sistema neural o modo de alerta. Todas as vezes que estou duas ou três horas olhando para o celular, ou no computado, estou deixando meu cérebro mais hipervigilante. Quando começo a consumir a tecnologia sem hora para acabar, começo a criar um padrão de repetição no cérebro que ele fica consumindo conteúdo o tempo inteiro. E assim não consigo relaxar, pois já criei um padrão baseado no consumo da tecnologia que eu tenho. ”

Ainda de acordo com a profissional a gente não tem noção do prejuízo que a tecnologia traz para o período infantil e adolescente quando o tema é saúde mental.

Quando procurar ajuda


Sinais que precisamos buscar ajuda: dificuldade para dormir, acorda cansado, com dor no corpo, dores de cabeça, sempre irritado são sinais que você precisa de ajuda. Está sempre exausto, não quer se relacionar com outras pessoas, tem falta de apetite, mudanças de humor, pensamentos repetidos, achando que tudo vai dar ruim, a saúde mental já está pedindo socorro.
“São ações de comportamentos incomuns que servem de alertas”, resume Karla.

Tratamento sem medicamento


Joinville é pioneira em oferecer uma técnica que – de forma eficaz – funciona e pode ajudar as famílias que enfrentam os problemas relacionados à saúde mental. É o Neurofeedback – sem uso de remédios – que treina o cérebro para equilibrar e corrigir as funções, melhorando assim a atividade cerebral de qualquer indivíduo. Já funciona na Europa e atualmente está se expandindo pelo Brasil.

O paciente chega na clínica, relata as queixas e sintomas, conversa com a especialista e vai para uma sala.

Enquanto assiste a um filme, o cérebro vai recebendo estímulos para funcionar na forma que deve, através de elétrodos. Não tem choque e não é invasivo. Na prática é apenas uma técnica para dar feedback do cérebro para o paciente, que pode acompanhar todo o processo desde a colocação de pequenos sensores no couro cabeludo. Estes sensores terão a função de captar as ondas cerebrais.
Feita essa etapa vem o diagnóstico que sai em até 24h.

“Faço a análise e digo: a questão da depressão do teu filho ou filha está nessa região aqui. Nesse processo vejo se tem trauma, se tem distúrbios e vou traçando as características dessa pessoa. Depois, baseado no exame, digo quantas sessões são necessárias”, explica Karla.

Folha Metropolitana

A diferença entre a literatura e o jornalismo é que o jornalismo é ilegível e a literatura não é lida… Oscar Wilde

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