Keit Krelling – Psicóloga
E-mail: keitkrelling@gmail.com
Responsabilidade! Palavrinha pesada, cheia de significados e amarras. Algumas pessoas tem muita, outras nem tanto. E há ainda algumas onde ela é inexistente ou terceirizada.
Quando assumimos a responsabilidade sobre nossas ações, assumimos também as consequências vindas com ela. Nem sempre estamos certos, e tudo bem! Quando erramos, precisamos arcar com o peso dos erros. Assumir o erro é um ato de responsabilidade, que traz ao sujeito a possibilidade de mudança e evolução. Pensa-se sobre o ocorrido, nas maneiras de se fazer melhor, e em outras oportunidades aprimoram-se os resultados.
O excesso de responsabilidade, que ocorre em sujeitos que tentam carregar o mundo todo nas costas, faz com que estejam sempre ligados no 220, sem tempo para si, pois “precisam resolver tudo à sua volta”, para si e para todos. Não suportam a possibilidade de errar, pois interpretam o erro como uma “incapacidade” ou “insuficiência”, e o “não dar conta de tudo” tem também este significado. Estão normalmente sobrecarregados, cansados, estressados e propensos à dificuldade em relaxar, pois, “relaxar é coisa de gente preguiçosa, e eu não posso ter preguiça”. Quando conseguem um tempo para desacelerar, não o aproveitam, pois se sabotam com erros cognitivos de “ditadura dos deveria” achando que “não deveriam estar descansando, tendo tantas coisas para fazer”. Tendem a personalizar, ou seja, trazer para si a culpa de ações que nem lhes cabem efetivamente. É o exemplo da esposa que apanha do marido porque acha que “mereceu”.
Já o indivíduo que tem dificuldade em se responsabilizar pelos seus atos (devido a uma série de fatores, e não vou me alongar aqui), tende a “terceirizar a culpa”, pois, tais sujeitos sentem-se melhores quando não são “culpados”, e é mais fácil colocar a culpa no outro. Quando a culpa está no outro, “continuo estando certo”, o que faz com que o sujeito se sinta também forte e destemido. Tendem a se vitimizar, pois, de fato se sentem vítimas das circunstâncias. Como exemplo, pense em um sujeito que bate na esposa, vai preso por isso e culpa a esposa dizendo: “Ela acabou com a minha vida”. Porém, a realidade é que colocando a culpa no outro você não se livra dela, mas mentalmente provoca a sensação de não precisar carregá-la, gerando possivelmente emoções de raiva desta esposa, quando efetivamente acredita que “a culpa foi dela”.
Algumas estruturas familiares apresentam conflitos relacionados a responsabilidades, e é importante que desde muito cedo seja passado à criança pequenas noções de cuidados para consigo e para com os outros.
A dose! O que problematiza é a dose! A dose da responsabilidade precisa ser equilibrada. Nem a mais, nem a menos. E acertar a mão é que é difícil. Contudo, é também um exercício. Pare e pense agora, neste minuto, e me responda: Quais responsabilidades você vem pegando para si, e que não são suas? E indo um pouco além, pense também: Quais responsabilidades são de fato suas, e estás terceirizando, passando para outra pessoa? A partir destas perguntas, comece a se perceber. Repare à sua volta e o quanto atitudes pequenas podem mudar o mundo de alguém.
Errar não precisa ser algo problematizado. Se você quebrou um copo, ok, você quebrou o copo. Pegue uma vassoura, uma pá, junte os cacos, os coloque em uma caixinha e jogue no lixo. E assim siga sua vida. Você não precisa justificar ou encontrar respostas do porque você quebrou o copo… “ah eu quebrei porque você deixou o copo na beirada, a culpa não é minha”, ou “esse copo é muito fraquinho, por isso quebrou”. Não, você pode ter quebrado o copo porque estava desatento, pensando em outra coisa. E tudo bem. Tudo bem mesmo. Até porque, não estamos 100% atentos o tempo todo. Então, limpe os cacos, e siga. Simples assim.
Se você machucou alguém com os cacos, precisaremos falar de responsabilidade afetiva, e aí a conversa muda de rumo, pois, a responsabilidade afetiva é indispensável nos relacionamentos de qualquer segmento. Responsabilidade afetiva está relacionada à responsabilidade que você tem em relação aos sentimentos do outro, ou ao que você pode provocar no outro com suas palavras e atitudes.
Ter responsabilidade não precisa ser chato, e ser irresponsável não é sinônimo ou condição de juventude. Ser responsável é condição sine qua non para a sua saúde mental, e também para a saúde mental de quem está à sua volta. Se estiver com dificuldades, procure ajuda, mas não permita que o dilema da responsabilidade te cause problemas.